Equilibrando-se nas nuvens

Eu só queria vôar



   Lembro-me da minha infância ,mais hoje lembro dela como nunca antes tinha lembrado,das Flores do jardim imenso,das tardes coloridas,do vento que batia nas janelas do meu quarto,dos passarinhos e seus hinos de amor,da mangueira velha e do meu balanço.O balanço era um meio de transporte para o céu que tantas vezes eu tentei alcançar.
 Hoje,faz um frio e eu sinto uma dor que quase me sufoca,sento na janela e vou observar as árvores despidas do outono ,sinto que esse será meu último outono e eu não temo por isso,minha hora chegou,vivi a vida tão serena  e meu fim é Inevitável assim como a de uma cigarra que canta até morrer.Hoje é um dia diferente,as coisas tem um sentido a mais para mim,logo eu  que achava que a vida era casar e encher a casa de filhos,me enganei.A vida tem um sentido própio,incomum e cada um da cores a ela e eu pintei a minha vida com sete cores,fiz dela um arco-íris.
 Sentei na cadeira da varanda,lá dentro eu sentia um terrível abafamento,aqui fora eu vejo a garoa fina que cai e sinto cheiro de chuva que acalma a minha alma.E agora como um filme vejo toda minha história sem cortes,vejo a tristeza de mamãe, sua silênciosa morte,flores murchas que choravam no seu caixão,do rosto pálido de papai, das cartas mortas que escrevi todos esses anos a uma avô que nunca conheci,da ponte do lago que tanto atravessei.Tudo agora se transforma em vento, minhas pálpebras temam em fechar não posso mais,acabou.Voarei como uma andorinha para um lugar onde nem eu sei onde é.

 
  Gosto de vôar a noite,de sentir o vento fresco,de contemplar a cidade e suas luzes, observar a lua e as estrelas.Ontem posei no céu e me balancei nas núvens,as vezes também gosto de ficar a ver a minha imagem nos lagos,mais sem narcisismo,só para saber as mudanças que sofri esses anos todos,depois que decidir vôar,esqueci os anos,dias e mêses.
  Hoje a noite senti saudade da terra e fui até lá,de início visitei um circo,meus olhos brilhavam como estrelinhas cintilantes,depois vi a verdadeira desgraça pelas ruas,assaltos e mortes.Tudo virou brasa e elas queimavam os meus pés,voei como um eterna andorinha,adeus terra aqui deixo a minha morte e no céu o meu nascimento.