Equilibrando-se nas nuvens

Eu só queria vôar

  Estava hospedada com minha família na casa de uma amiga da minha tia,na cidade de Santo Amaro.Era umas 23 hrs,estava sem sono e fui m aventurar nas ruas da pequena cidade,sempre fui curiosa e a noite eu era quase Sherlock holmes.Ao andar nas antigas ruas,ouço os apitos distantes do trem,coisa de sessenta anos atrás.Seus trilhos cravados no chão como cicatrizes esperam o gigante adormecido.E foi assim que apareceu um garoto de no máximo dez anos com uma mala e um bilhete,seus trajes antigos.
   O garoto parecia estar esperando algo já um bom tempo,estava agachado próximo aos antigos trilhos do gigante adormecido.Seus olhos lembravam uma época distante.Mais o que um menino estaria fazendo nas noites escuras de Santo Amaro com uma mala e um bilhete(que depois percebi que era uma passagem)?...fiquei horas a observa-lo e vi quando  levantou e veio a andar nos antigos trilhos.Decidi chama-lo e indagar o que ele fazia ali,chamei,mais ele não olhava,parecia não me ouvir.Então tive a brilhante ideia de segui-lo,mais cada passo que eu tava mais distante eu ficava,algo muito estranho,então,comecei a correr,mesmo assim ele ia ficando mais longe até não poder enxergar-lo.
   Já tinha perdido as esperanças,andava sem rumo quando próximo a uma velha casinha encontrei uma passagem de trem amarelada(guardei no bolso da calça) pelo tempo e os destroços da mala.Uma senhora que morava na casa me mirava da varanda.Perguntei:senhora,passou um menino com uma mala por aqui?
-Não,ninguém fica na rua uma hora dessa não moça,já é quase meia noite.De onde você é?
-De Feira de Santana.
-Pois,aqui não passou menino nenhum...
Insistir.-Eu o vi agora pouco,estava andando nos trilhos do trem.
A senhora agora me olhava de uma forma estranha.
-Filha,muitas pessoas já relataram essa mesma história,isso é assombração.
  Me despedi da senhora e voltei ao meu rumo muito intrigada,com muitas perguntas e sem alguma resposta.Queria tanto saber o que o garoto esperava e aonde tinha ido,lembrei-me da passagem de trem que eu tinha guardado no bolso,li com muita dificuldade uma data quase apagada:''1961''.Quase morri do coração,apressei os passos,em determinados momentos cheguei a correr,porque demorava a chegar ao meu destino.A senhora da casa velha estava certa,era assombração.Parei já perto da casa que estava hospedada,quando escutei uns assovios e uma mãozinha que me dava tchau de longe,era o garoto.Quis nem saber de nada,quase arrombei a porta da casa de tanto medo.Ainda consegui olhar da janela ele tomando o rumo dos trilhos de novo.O mundo é muito estranho,sempre á algo fora da realidade,coisas difíceis de acreditar.


   Grande praça a igreja da cidade de Feira de Santana,antes lugar de encontro de devotos,que se reuniam para ir as missas e festas religiosas.Hoje,ponto de prostitutas,bêbados e mendigos.Praça da Matriz,praça dos sonhos perdidos.E assim dorme a cidade,acorda a Matriz e seus refugiados.
   Uma grande e antiga árvore conta a história de milhões de pessoas que ali passaram,algumas felizes ,outras amarguradas.Amanhece o dia,dorme a Matriz e seus refugiados,logo a praça vira campo de disputa de jogos de dama,dominós e xadrez.Ao escurecer aparecerá Marias e Josés da vida,atrás de camas nada aconchegantes e de um cliente para passar a noite.As vezes na semana da quermesse aparece um triste parquinho por lá,com seu carrossel brilhante ilumina a  praça,mas,nada parece interessante aos olhos sofridos e tristes que ali habitam. 
   Na triste noite da Matriz,o vento passa soprando as folhas das árvores que formam uma orquestra onde se entoam cânticos  de boas vindas aos pés que estiveram ali de passagem e tiveram suas pegadas apagadas pela chuva e aos pés que vivera ali a vida toda.
  Mulheres da vida esperam seus clientes,mendigos deitam para sonhar um lar,bêbados para delirar.A noite e seus fantasmas que ao amanhecer vão sumir e esperar anoitecer de novo para retornarem a pátria.Dorme a cidade,desperta a Matriz.



  Tanto tempo sem nenhuma suplicas,explicações,sem nem uma vogal ou consoante que de alma a esse blog,esquecido na instante do meu silêncio.Venho a soprar toda poera e voltar a meu verdadeiro fascínio que é este diário.Não pretendo deixar nada que foi dito aqui morrer ou apodrecer pela ação do tempo.Saindo da realidade e entrando em um mundo mágico,macabro e intrigante,tudo o que  foi escrito neste blog é produto da minha mente!